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sábado, 19 de junho de 2010

A culpa é do hospital e não da médica 

Duas crianças queimadas no Garcia de Orta por troca de medicamento

Nem todos os erros médicos resultam de negligência. Não conhecendo os casos - pelo menos oficialmente, como diria Sócrates - mais do que é dado a saber pelos jornais, seja neste caso do Garcia de Orta seja no caso dos cegos do S.ª Maria, parece-me haver sobretudo erro de organização e erro de gestão da qualidade, deficiências no processo de gestão do risco e ausência de uma cultura de segurança, também menorização da farmácia hospitalar e subjugação a imperativos económicos, ou seja um erro do Hospital, em que os administradores e os responsáveis políticos devem ser, pelo menos, co-responsabilizados.

Adenda: As crianças parecem recuperar bem. Adenda: Uma talvez não tanto.

Peliteiro,   às  02:17

Comentários:

 

"Nem todos os erros médicos resultam de negligência."
.
IMHO, a grande maioria dos erros médicos não resultam de negligência. Negligência é uma forma de corporizar a responsabilidade numa pessoa e desculpar a organização para evitar que ela tenha de mudar.
.
Recomendo o livro "O Erro em Medicina"

 

 

 

NMHO, estamos de acordo.
A todos os que lerem estes comentários recomendo a leitura deste excelente texto do CCz:

http://balancedscorecard.blogspot.com/2006/07/erro-humano.html


Retirei esta preciosidade do livro “O erro em medicina – perspectivas do indivíduo, da organização e da sociedade” de José Fragata e Luís Martins.

“A cultura de culpabilização individual assenta no facto de se tornar o “erro humano” mais como um explicação de per si, do que algo que precisa de ser explicado e compreendido nas suas profundas motivações. Como decorre, a culpa é de quem errou, ocultando-se o facto fundamental de que “as melhores pessoas podem cometer os piores erros”. Este ciclo de culpa inicia-se com a noção de que, sendo senhores da escolha do nosso destino poderemos sempre escolher entre as boas e as más acções, por outro lado e optando pela teoria do menor esforço, é mais fácil a quem analisa parar nas causas de erro que se encontram associadas a quem actua no extremo das acções, o actuante ou interventor directo, a pessoa. Encontrada essa “culpa” é cómodo que a acção de procura cesse a esse nível base, por outro lado, essa é ainda a conveniência administrativa e institucional, que assim vê minimizadas as suas próprias responsabilidades. As instituições que, analisando um qualquer acidente, se ficam pelo modelo de “culpa individual” perdem a possibilidade de alterar o “sistema” e melhorar a segurança pela introdução de novas políticas que tornem novos erros menos prováveis. Ao punir, simplesmente, um indivíduo a organização nega de forma subliminar a sua responsabilidade no evento negativo, mas não o corrige verdadeiramente. É o princípio da negação dos acidentes, que caracteriza as organizações demasiado burocratizadas e sem abertura a qualquer processo de inovação regenerativa. Face a um acidente que ocorre, a tendência é isolá-lo, punir o responsável mais directo, impedir a divulgação do facto e, seguir em frente, após ter tomado medidas limitadas a nível local. Uma atitude diferente desta atitude de negação de acidentes, é a atitude que divulga o evento negativo, encarando-o como algo que merece ser analisado a todos os níveis, começando pelo da organização, e aceita abertamente as novas ideias de mudança, traduzindo assim flexibilidade.”

Esta cultura de que fala o texto, permeia toda a nossa sociedade, organizações incluídas.

Quando uma falha acontece poucas são as organizações, ou pessoas, que se lembram de um dos meus mantras preferidos:

“Não há acidentes”.
...
# por Anonymous Mário de Sá Peliteiro : sábado, junho 19, 2010

 

 

 

Olhe que a culpa agora vai ser da auxiliar que colocou no frigorifico A quando deveria ter colocado no sitio B!

Não se pode culpar a médica porque essa não sabe ler!!!
# por Anonymous Anónimo : segunda-feira, junho 21, 2010

 

 

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