$BlogRSDUrl$>
Impressões de um Boticário de Província
Já me esquecia de vos contar, entretido que andei com o caso povoaoffline. Ontem, como vos tinha dito, almocei com o meu arqui-inimigo Correia de Campos e, na sobremesa, decorreu um interessante debate (debate público, pelo que não me parece deselegante reproduzi-lo, em parte, sem transcrições rigorosas, recorrendo apenas à memória). Uma colega, Administradora Hospitalar, perguntou-lhe sobre a execução de análises clínicas a todos os doentes do SNS pelos Hospitais, ao que o ex-Ministro respondeu vagamente - como quem diz, isso para mim são pormenores muito pequeninos, eu gosto é de falar dos 8 mil milhões da saúde, de números grandes -, com um certo desinteresse, de certa forma enfastiado: sei que está para sair legislação, mas não estou bem informado, diz-se que o sector está a cair nas mãos de multinacionais, investidores Angolanos, mas que se há-de fazer a nossa petrolífera também está nas mãos de Angola, este é o mundo em que vivemos. Ora, curiosamente, eu estava já inscrito para intervir a seguir e, embora este assunto não se relacionasse com a questão que tinha planeado, irritado pela postura distante de Correia de Campos a quem pouco interessa o destino de todo um sector de actividade, levantei-me e a 3 metros de distância, olhos nos olhos, disparei mais ou menos assim: «Tentando acrescentar alguma informação sobre o sector das análises clínicas, que conheço bastante bem, queria dizer-vos que em 2006 a entidade reguladora da saúde elaborou um relatório em que se podia ler que no sector a fraude era generalizada, as Misericórdias funcionavam como barrigas de aluguer e cerca de 20% dos serviços pagos pelo Estado não eram nunca prestados, eram actividades fictícias; que as convenções estavam bloqueadas desde 1997 e o Ministério da Saúde proporciona um constante clima de instabilidade - neste momento discute-se a possibilidade da nacionalização dos MSDT à semelhante ao ocorrido na ULS de Matosinhos - e de desprezo pelas relações de parceria com os prestadores o que leva a uma concentração desproporcionada, com as empresas a serem detidas por capital proveniente de offshores ou de capitais de risco e o sangue dos portugueses a serem enviadas para o estrangeiro, resultando num sector estagnado em que ninguém investe em equipamentos, ninguém contrata ou investe em pessoal, em formação, ninguém investe em qualidade - este é o panorama Sr. Ministro, Caros Colegas. Queria agora perguntar ao Sr. Ministro Correia de Campos, que nos veio falar do fio condutor das políticas de saúde, que nos esclarecesse sobre o fio condutor da política do medicamento, matéria que não foi ainda aqui abordada.» Por esta altura, tinha-se instalado um silêncio sepulcral, gélido, e Correia de Campos estava um pouco surpreendido e, pareceu-me, um tanto embaraçado, começando por responder: - A indústria farmacêutica, blá, blá, blá, por todo o mundo anda a comprar fábricas de genéricos, é uma tendência mundial, blá, blá, blá, a nossa indústria não consegue acompanhar as empresas internacionais, não inova, vem-nos pedir auxílio mas nós não podemos estar a subsidiar a ineficiência... Aproveitando uma pausa e uma altura em se dirigia directamente a mim, retorqui: - Desculpe mas não era bem isso que queria saber, referia-me aos medicamentos na Farmácia ao que podem os doentes esperar... - Ora que quer que lhe diga Sr. Dr., não sou nenhuma Pitonisa, não adivinho o futuro, o que havia a fazer foi feito... - Porque não instituiu a prescrição por DCI, porque não abriu nem uma Farmácia? - Mas eu abri Farmácias... - Nem uma! - Havia umas de uns concursos pendentes no Infarmed... - Continuam pendentes! Nem uma! - Vê como é o Infarmed? Por isso é que mudamos as regras, para no futuro simplificar esse processo, além do mais, como sabe muito bem, Sr. Dr., nos concursos das Farmácias nos Hospitais apareceram concorrentes a dar 35% e a ANF ficou em 2º lugar em alguns deles, o que como bem sabe Sr. Dr., é sinal que ganham muito dinheiro com os bónus, compram 100 caixas de um genérico e os laboratórios dão-lhe 200, alguém um dia vai ter que acabar com isso, a ANF se ficou em 2º lugar é porque sabe como funciona isso e o Sr. Dr. também sabe muito bem. - Não é verdade, sei que esses 35% de que fala não vêm dos bónus, não sei de onde vem, mas não vêm dos bónus, um valor desprezível. O moderador, Prof.º Jorge Simões, foi interrompendo o agora diálogo, deu por terminado a sessão, agradeceu a Correia de Campos pelos ensinamentos que nos deixou e ele não conseguiu deixar de dizer: - Estamos todos sempre a aprender com todos, não sabia aquilo dos 20%, não conhecia esse número... E eu, já em andamento - Esse número não é meu Sr. Ministro, é da sua ERS! De 2006! |
---|
maio 2003 junho 2003 julho 2003 agosto 2003 setembro 2003 outubro 2003 novembro 2003 dezembro 2003 janeiro 2004 fevereiro 2004 março 2004 abril 2004 maio 2004 junho 2004 julho 2004 agosto 2004 setembro 2004 outubro 2004 novembro 2004 dezembro 2004 janeiro 2005 fevereiro 2005 março 2005 abril 2005 maio 2005 junho 2005 julho 2005 agosto 2005 setembro 2005 outubro 2005 novembro 2005 dezembro 2005 janeiro 2006 fevereiro 2006 março 2006 abril 2006 maio 2006 junho 2006 julho 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 dezembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 novembro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 outubro 2010 novembro 2010 dezembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 novembro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 fevereiro 2012 março 2012 abril 2012 maio 2012 junho 2012 julho 2012 agosto 2012 setembro 2012 outubro 2012 novembro 2012 dezembro 2012 janeiro 2013 fevereiro 2013 março 2013 abril 2013 maio 2013 junho 2013 julho 2013 agosto 2013 setembro 2013 outubro 2013 novembro 2013 dezembro 2013 janeiro 2014 fevereiro 2014 março 2014 abril 2014 maio 2014 junho 2014 julho 2014 setembro 2014 outubro 2014 novembro 2014 dezembro 2014 janeiro 2015 fevereiro 2015 março 2015 abril 2015 maio 2015 junho 2015 julho 2015 agosto 2015 setembro 2015 outubro 2015 novembro 2015 dezembro 2015 janeiro 2016 fevereiro 2016 março 2016 abril 2016 junho 2016 julho 2016 agosto 2016 setembro 2016 outubro 2016 novembro 2016 dezembro 2016 janeiro 2017 fevereiro 2017 março 2017 maio 2017 setembro 2017 outubro 2017 dezembro 2017 abril 2018 maio 2018 outubro 2018 janeiro 2019 fevereiro 2019 julho 2020 agosto 2020 junho 2021 janeiro 2022 agosto 2022 março 2024
|