Por volta de 1986, 1987 - já tenho disto uma memória um pouco difusa -, realizou-se um importante congresso internacional farmacêutico em Lisboa, com a participação de estudantes de farmácia de todo o mundo. Eu fui, com mais dois ou três colegas, representar a Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra por, julgo, fazer parte do Conselho Directivo, ou coisa parecida.
A organização era de Lisboa, protagonizada pela filha do então Primeiro-Ministro, a interessantíssima colega Patrícia Cavaco Silva. O jantar de encerramento foi, se bem me lembro, no Palácio de Queluz, antecedido por um espectáculo de arte equestre, decorrendo num ambiente de alguma solenidade. Via-se que os Professores de Coimbra, sempre muito conservadores, ortodoxos, não estavam a apreciar minimamente a atitude dos seus jovens pupilos, inebriados com tamanho cosmopolitismo.
No fim, num enorme salão com candelabros enormes, repleto de figuras internacionais da classe, gente que escrevia os livros por onde nós estudávamos, procedeu-se ao encerramento do congresso e logo foi dada a palavra aos anfitriões. Surge então um jovem mais ou menos da minha idade, muito bem penteado, com um nó de gravata perfeito e um à-vontade desconcertante, que num Inglês límpido discorre sobre as matérias tratadas no evento com uma eloquência extraordinária (pelo menos parecia).
Nessa altura parei de falar com a minha colega de Uppsala, um palmo maior que eu, e reflecti nas diferenças que tão cedo se notam entre colegas: eu tremeria como varas verdes se tivesse que fazer um discurso de circunstância para uma plateia tão exigente e nunca diria mais que 20 palavras, vá, talvez 30 - o Rui Ivo discursou calmamente durante meia-hora e, mais difícil ainda, em Inglês fluente, numa pronúncia irrepreensível (e o penteado sempre impecável!).

Separados à nascença. A minha carreira não passou além de Massarelos; Rui Ivo foi presidente do Infarmed - até ser demitido por Correia de Campos - e depois de uma carreira internacional regressa agora a Portugal desempenhando a partir de hoje a função de novo Director Executivo da Apifarma. É justo. O Rui Ivo fará um bom lugar na Apifarma.