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quarta-feira, 16 de agosto de 2006

A cidade verde daltónica 

Ultimamente tenho passeado muito pela alameda da Avª Mouzinho de Albuquerque. Preparando a despedida, agora que os choupos têm morte anunciada.

Aquela estreita alameda faz parte da minha memória. De estudante, entre a escola e o Diana-Bar. Também dos passeios de mão dada com a namorada. E ainda de empurrar os carrinhos das minhas crianças. Agora, já maiores, continuam a gostar de se passear por ali. Sempre sob as copas, cada vez menos guedelhudas, dos choupos. Sinal de que algo passou para as novas gerações. Daí ser tão difícil explicar-lhes porque é que aquele pequeno espaço do nosso mundo vai desaparecer.

Alguém me diz que os choupos também se chamam álamos. Não sabia. Tenho o grande defeito de ser um perfeito ignorante em botânica. Uma espécie de daltónico do verde. O que lamento. Não reconhecer as árvores, ou as flores, pelos nomes. Habituado aos clássicos, que ocupavam meio livro com descrições de folhagens, sorvia apenas o romântico dos nomes. Tenho desde aí adiada, talvez para a reforma, melhor investigação. Adernos, rododendros, tuias, lodãos, liquidambares, ciprestes, pitosporos, sequóias, aroeiras, buganvílias, tojos, troviscos...

Dizem que a morte dos choupos é culpa das próprias raízes. O executivo camarário, que agora decretou o abate, acusa-as de provocarem ondulações ao pavimento. Consta que inúmeras pessoas, mais idosas, lá têm perdido o equilíbrio. Que as senhoras lá deixam os tacões. E que também a bicharada, que ocupa as copas, faz tiro ao alvo nos transeuntes. Até os cães são lembrados, mais a sua conhecida inclinação em alçar troncos. Quiçá, alguém dirá que também porque os choupos não fazem compras. Nem utilizam o Multibanco. Tudo razões para decretar a pena capital sobre a única alameda da cidade.

Tenho tido dificuldade em me conformar. Sempre gostei de passear ali. Mais do que em qualquer outra rua ou passeio na Póvoa. Por ser um nicho de espaço vivo no meio da cidade. De uma cidade avara de jardins, árvores, plantas. De uma cidade feita de pedra. Uma redoma de casas e ruas depositada em cima do asfalto. Que em cada «renovação» urbanística troca, sempre, qualquer vestígio de verde pelo betão.

Daqui a uns meses, haverá ali um parque de estacionamento subterrâneo. A alameda será trocada por um qualquer novo pavimento. Já não, seguramente, ondulado. E terá, concerteza, uma calçada «moderna». Plantada a régua e esquadro. Quanto às árvores, serão concerteza substituídas pelos vasos que os, certamente numerosos, comerciantes da avenida porão à porta. Para receber bem os, certamente ainda mais numerosos, clientes que passarão pela avenida. A contemplar as montras. Sem perdas de equilíbrio. Com todos os tacões. Com os cães atrelados nos vasos. E passará a haver mais Multibancos na avenida.

Ninguém me diz se esta decisão está correcta. Quem a decidiu. Quem terá feito, concerteza, a análise destes dois investimentos. O anterior e o novo. O da alameda e o do parque subterrâneo. Só peço que me divulguem, munícipe anónimo, as contas que fizeram. Isto é, o Business Plan deste novo investimento, dito «estruturante». Que evidencie a bonomia do projecto e, logo, da decisão tomada. Que me permitam comparar as respectivas TIR e VAL. Para, depois, poder esclarecer os choupos da alameda ...



«Considera o que se diz e não te preocupes de saber quem o disse» (Tomás de Kempis, Imitação de Cristo, Capítulo 5, nº1)

Anónimo,   às  11:10

Comentários:

 

Se em vez deste parque subterraneo, que só vai ser usado 3 meses por ano, ou de mais um estadio municipal para o Varzim, que vai estar sempre às moscas, fizessem era o tratamento a todos os esgotos e pluviais da Póvoa, por forma a termos praias dignas de bandeira azul, ou pelo menos sem salmonelas, é que os gajos eram espertos. O problema é que a rede de esgotos é enterrada, logo ninguem a vê, logo não dá votos.....

 

 

 

Quem assim decide, desta forma unilateral, sabe que o poder da força e a força do dinheiro contam mais que a história da cidade e o interesse da comunidade.
# por Blogger Manuel CD Figueiredo : quinta-feira, agosto 17, 2006

 

 

 

Devias fotografar para eu matar saudades. Já morei nessa Avenida. E já agora da elias Garcia se faz favor: A Casa que era ou é(?) dos Quintas.
Pode ser?
# por Blogger T : sexta-feira, agosto 18, 2006

 

 

 

Ala Arriba, não fui eu quem ficou nostálgico, foi o Marx.
# por Blogger Peliteiro : sexta-feira, agosto 18, 2006

 

 

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