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segunda-feira, 17 de maio de 2004

Divórcios III 

Contribuições para a compreensão do fenómeno do Divórcio

O dinheiro faz mover o mundo; aquilo que nos ensinam no liceu de leis gravitacionais, atracção e repulsão de massas, e coisas que tal é tudo mentira. O que faz girar o mundo é outra massa, é o vil metal!
No casamento e no divórcio o dinheiro, ou melhor a falta dele, também tem um papel determinante. Senão vejamos:
A Maria namorava um Manel, que se apresentava em casa dela, ao Sábado á noite, num magnífico BMW descapotável. O pai espreitava pelas persianas e cofiava o bigode agradado; a mãe, mais descarada, saía à rua e, prazenteira, apreciava o brilho dos cromados e a macieza dos estofos. Ele tinha uma fábrica, ela uma quinta na aldeia, ele vestia Armani, ela Gautier e Vuiton, ele conhecia 15 países, ela ia para as Bahamas no Verão, ele era de boas famílias, ela descendia de um Conde, ele apreciava vinhos, ela adorava nouvelle cuisine française...
(Repare-se que o veículo tem aqui uma grande importãncia. Já os Romanos, quando os garbosos filhos chegavam a alturas de mancebo casadoiro, investiam o que tinham e não tinham num poderoso sinal de poder e riqueza, uma quadriga vistosa e apelativa. As Romanas palpitavam.)
Bom. Quando casam, ela chega à conclusão de que ele não tem fábrica nenhuma, apenas o pai tem uma quota de 1% que lhe foi dada para premiar a sua sabujice e arte delatória, mas como a fabriqueta nunca dá lucro, aquilo vale pouco mais que nada; ele também chega à conclusão que ela não tem quinta nenhuma, apenas um pardieiro a cair de podre, a precisar de milhares em obras, herdado duma tia-avó eutanasiada precocemente. O resto era tudo arte de mostrar ter o que não se tem - arte cada vez mais bem dominada; a roupa e os relógios eram falsos, o carro foi recuperado de uma sucata, aos fins de semana, pelo primo chapeiro e tinha motor Volkswagen quitado, as viagens dele forma como sopeiro de bordo num paquete de 3ª categoria, o Conde era um tri-tri-trisavô com dezenas de filhos bastardos nunca perfilhados.
Bem. Quando o pano começa a subir, o dinheiro não chega a meio do mês, as férias são nas Caxinas, num apartamento bafiento repartido pela rebanhada da família toda, avó entrevada incluída, jantares de francesinhas no pão com molho de banha rançosa, num snack com mata moscas por electrocussão e raios UV, os calotes nas lojas todas lá do bairro, os putos ranhosos a berrar pelos cantos e a pedir chupas e guaranás, o melhor é ir viver para casa dos meus pais, naquele recuado, o quê, naquela espelunca, estás maluco, nem morta, se gastasses menos em batons e trabalhasses mais é que eras fina, querias ver o jogo do Porto na Alemanha, não era, vai mas é roubar, já não compro umas calças há anos, e não te esqueças que para o ano a Bruna Rafaela vai para a primária, quero ver como vai ser, esta casa mete nojo aos cães, nem uma lata de salsichas há no frigorífico, a televisão está outra vez avariada, a D. Miquinhas da mercearia diz que vai pôr o nosso nome na montra, que vergonha...
Ai se eu tinha casado com o Emanuel que gostava tanto de mim!
Ai se eu tinha casado com a Rosa que era perdida por mim!

Peliteiro,   às  23:34

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