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Amanita muscaria

Impressões de um Boticário de Província

Desde 2003


quinta-feira, 29 de maio de 2003

As nossas cidades são pobres em espaços verdes e jardins. Por isso, também não temos o hábito de os frequentar.
No Porto, a rotunda da Boavista, um dos espaços mais nobres da cidade, está permanentemente vazia, apenas passantes e uns quantos reformados sentados nuns bancos corcomidos. Devia estar mais bem cuidada, bem ajardinada, animada, com uma boa iluminação e, impecavelmente limpa e desempoeirada.
Mas não está; os prédios envolventes estão velhos e decrépitos, e o piso circundante – especialmente em dias de chuva – faz-nos lembrar Bagdad.
Agora meteram lá uma feira de velharias, com carrinhos de choque e matraquilhos e farturas. Nem sei se acho bem ou mal. Por um lado repovoa um espaço perdido; por outro não me parece compatível com uma área fulcral de uma grande cidade. Talvez seja já a pensar nos Santos populares.
Se calhar a rotunda é, de facto, a verdadeira imagem de uma cidade moribunda. É pena!


Peliteiro,   às  01:01
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quarta-feira, 28 de maio de 2003



E já que estou a falar de trabalho, lembro-me de um episódio, passado no Verão passado.
Estava um daqueles dias de praia magníficos, sem vento, sol forte, bikinis por todo o lado, um fininho fresquinho acabado de sorver, conversa agradável. A praia, a melhor praia do mundo, a da Lagoa, na Póvoa, estava completamente lotada, não cabia nem mais uma toalha.
Eis senão quando reparo numa velhinha, praí com 80 anos, poveira típica, toda vestida de preto. Andava ao sargaço. Um trabalho difícil, é preciso entrar na água, com um utensílio tipo engaço gigante, pesado, e contra a força das ondas, puxá-lo para a areia. Depois junta-se em montes e carrega-se com uma cesta, às costas, até terra, onde está estacionado o jumento.
Ora, pode então perguntar-se, não estará aqui nada de errado? Então, aqui só os velhinhos é que trabalham? Porquê? Não será por prazer concerteza! E os filhos e netos da senhora, também estariam na praia? E será que todas aquelas barrigas ao sol estariam a gozar de um merecido descanso?
O mundo ainda é muito injusto.

Entretanto, como acabou o Jornal 2 - este telejornal e o Expresso são os meus olhos para o mundo, só sei o que se passa se for aqui noticiado - fui até à varanda fumar uma cachimbada. E lá estavam, ao largo, as luzinhas dos barcos, que devem ser de pesca artesanal. Ainda são bastantes, quer de Inverno quer de Verão.
Sabendo da dificuldade que há em arranjar quem trabalhe (andei atrás de um picheleiro aí uns 6 meses, até tive que o tratar por comendador), pergunto-me, onde se arranjará mão de obra para este trabalho?
É que é talvez, o trabalho mais difícil, que de repente me lembro. É nocturno, é perigoso e assustador (até eu que mergulho em ondas de 4 metros, em dias de marés vivas, nunca me atrevi a mergulhar no mar à noite), é fisícamente duro, é longo (não há pausas, nem um bar para beber um cafezinho) e faz-se ao sabor dos caprichos da natureza: de Inverno, com a nortada (que até arranca os cabelos e limpa o cerumen das orelhas) e com a chuva gelada tocada a vento, é inacreditável como alguém consegue trabalhar nessas condições.
Será que já há Ucranianos e Moldavos na pescaria? Nunca me apercebi.
E é um trabalho tão importante. Que seria de nós sem o peixinho fresco. Eu grelho um rodovalho com alho e folhas de carvalho que é uma especialidade!
Estes pescadores mereciam ganhar aí uns 5.000 ouros por mês, isentos de impostos.

Peliteiro,   às  23:48
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terça-feira, 27 de maio de 2003



Hoje estou especialmente cansado. E ainda é terça-feira!
O Presidente da Republica só deveria aprovar códigos de trabalho que contemplassem no máximo 30 horas semanais.
Agora a sério: como é possível que uma pessoa se sinta bem, consigo mesma, trabalhando apenas 40 horas por semana? E 35? E 22? E 10?
É claro que não estou a falar dos mais desfavorecidos, nem daqueles para quem um emprego é um bem precioso.
Falo é de alguns trabalhadores qualificados, especialmente dos funcionários públicos, como professores, médicos, engenheiros... ; falo também daqueles que trabalham por conta própria, como os advogados, ou até electricistas e canalizadores.
O que faz uma pessoa que chega a casa às 5 da tarde? Não é bom nem para eles; tornam-se depressivos, hipocondríacos, obesos, escrevem blogs, chateiam os filhos, gastam uma fortuna nos cafés e em cigarros e revistas de palavras cruzadas. E depois queixam-se do fim do mês!
Um trabalhador que se preze tem que trabalhar no mínimo 60 horas semanais!


Peliteiro,   às  23:32
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Está visto que o nosso sistema político está caduco. Os partidos políticos já tem muita pouca representatividade, o povo não se revê nos seus políticos, estes nem sequer reconhecem quem os elegeu.
Temos que criar um novo sistema, adaptado aos novos tempos. Os cibernautas serão os primeiros a fazerem-se ouvidos: PPT, Partido do Povo Trabalhador, o primeiro ciberpartido português, com um programa verdadeiramente democrático, elaborado numa lógica online.

Peliteiro,   às  00:04
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segunda-feira, 26 de maio de 2003

Ainda bem que o Ferro não ganhou as eleições, ele é francamente fraquinho.
Se fosse "primeiro" lá teria que se demitir e lá teríamos mais umas eleições.

Peliteiro,   às  01:32
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Sobre o caso dos pedófilos já tudo foi dito. Doutas opiniões encheram e encherão as páginas dos jornais e os ecrans da tevê.
É preciso, no entanto, não desviarmos a atenção do objectivo principal: rapidamente julgar e condenar os criminosos; estancar o aparecimento de novos casos; ajudar as vitímas.

Peliteiro,   às  01:27
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domingo, 25 de maio de 2003

Bombeiros mendigos 

A propósito de uma notícia sobre bombeiros, lembrei-me de quão triste é ver estes homens, valentes e importantes para todos nós, transformados em mendigos ou vendedores de rifas.
Não é que pedir seja uma vergonha ou signifique perda de dignidade, e bem sei que muitos são voluntários e independentes, mas enfim, a pedinchice sistemática destes homens nas vias públicas não me parece que seja condizente com o papel heróico que tantas vezes desempenham.
Será que os imensos impostos que pagamos não é suficiente para a autonomia financeira das corporações?

Peliteiro,   às  23:32
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sexta-feira, 23 de maio de 2003

Sevilha foi uma festa! Diverti-me à grande, e foi a partida mais intensamente emocionante a que já assisti.

Mas o que fará um rapaz como eu - habitualmente tão reservado e contido - a ser levado a cantar e a dançar, a colaborar nas coreografias de campo e a dar saltinhos, a gritar e a assobiar, num movimento de massas que nos transfigura e transforma. O gregarismo explicará tudo isto?

E eu que sempre defendi que não há diferenças nenhumas entre as pessoas que vivem no norte ou do sul de Portugal, que vejo poucas entre os Portugueses e os Espanhois e os Ingleses ou até mesmo os Americanos ou Australianos, que na tropa não pronunciei o "Juro morrer pela pátria" já que me parecia hipócrita e desactualizado, porque será que me senti tão orgulhoso na vitória pelo facto de ser do norte e ser Português?


Peliteiro,   às  00:23
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terça-feira, 20 de maio de 2003

Amanhã, lá vou a Sevilha ver o FCP.
Não me parece que sejam favas contadas estes escoceses.
Estou um pouco apreensivo, e parece-me que é muito mau quando os Portugueses ficam muito optimistas. Se fosse uma final em duas mãos, o Puorto ganharia concerteza; assim, a vitória será muito difícil mas será sempre nossa !
O Alcaide de Sevilha já recebeu o Pinto de Costa, o Luís Filipe Menezes não gosta de balancetes e cola-se desavergonhadamente ao poder das bolas. O Fernando Gomes que explique como ganhou dinheiro para comprar uma casa na Marechal, ele que sempre foi um político carreirista.
O Rui Rio é um presidente coerente e corajoso e acho muito bem que não preste vassalagem aos homens do futebol. Eu como portista não quero saber de autarcas e de políticos; e como cidadão, pagador de impostos, não me interessa nada os clubes de futebol profissional. Que não se misturem as águas.
Boa sorte Portugal.

Peliteiro,   às  23:00
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segunda-feira, 19 de maio de 2003

A evolução das espécies económica 

A economia é coisa de humanos; os homens são a espécie mais diferenciada no planeta, tendo desenvolvido capacidades que lhes dá enormes vantagens competitivas relativamente a outros seres vivos.
E embora a civilização desenvolvida pela espécie humana - com uma elaborada organizaçãode tarefas e funções; com um enorme número de indivíduos disseminados por todas as latitudes e climas (há pardais, ratos e portugueses em todo o mundo); com um alto domínio de ferramentas, utensílios e conhecimentos - não tenha paralelo em qualquer outra espécie na terra , as necessidades fundamentais são as mesmas de outro qualquer ser do reino animal: oxigénio, glucose e sexo. O oxigénio é um bem abundante e, por enquanto, acessível a todos sem limitações, portanto irrelevante em termos de sociedade e comportamentos. A glucose é o nutriente fundamental, o cérebro dos animais detecta e prevê a sua escassez antes de qualquer outra necessidade e emite sinais de alarme fortes; o medo da fome persegue o homem desde o início dos tempos. O sexo e a propagação dos genes, com vista à sobrevivência da espécie é um apelo imperioso, visível mesmo em comunidades onde a sobrevivência individual se encontra comprometida.
Ou seja, o que faz rolar o mundo dos humanos é exactamente o mesmo de todas as espécies e ecossistemas do planeta.
Daí, que as leis da natureza se apliquem mais do que se julga às regras da nossa sociedade. Os economistas e sociólogos dão pouca atenção às ciência biológicas; ouviram falar de Thomas Malthus e pouco mais…
Numa altura em que se fala tanto de globalização, produtividade, criação de riqueza e crise económica, a teoria da evolução das espécies e os estudos de Erasmus Darwin deveriam ser alvo de uma maior atenção.
(…continua …)

Peliteiro,   às  23:57
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Nas minhas noites de insónia elaboro brilhantes reflexões sobre os mais variados temas; o mesmo quando conduzo sózinho, quando trabalho fora de horas, no banho, em férias...
Ás vezes dou-as a conhecer a amigos, a conhecidos e a qualquer um que apareça. Nem sempre são muito apreciadas! Umas vezes são catalogadas como retrógradas, outras vezes como inovadoras, de esquerda, de direita, politicamente incorrectas, seguidistas, passadistas, lógicas, impraticáveis, loucas, estúpidas, sei lá o quê.
Infelizmente a maior parte delas morre no meu esquecimento.
Uma pena! Por isso resolvi editar este blog.
Não que tenha a presunção de que alguém, alguma vez, se dê ao trabalho de o ler; mas enfim, pelo menos eu daqui a uns meses poderei ler os meus pensamentos e impressões, aqui expressos espontaneamente e em bruto.
Bem bom.

Peliteiro,   às  10:51
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